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sábado, 27 de julho de 2013

Masterização – Uma introdução

Masterizar é sempre um processo do qual todos falam, mas poucos sabem o que é. Ou melhor: sabem o que é, mas não sabem como se faz. Em uma frase: Masterizar é dar aquela "pancada" na sonoridade da música. Este pequeno texto é uma breve introdução ao assunto, com dicas de como masterizar em casa usando a tecnologia digital, leia-se: um computador, software e plug-ins.
Não pretendo dar nenhum "mapa da mina" e/ou fórmulas mágicas, apenas desejo dar uma introdução ao assunto e esclarecer o processo e torná-lo mais acessível, ao menos parcialmente!
Como todos sabem, softwares e plug-ins demandam uma certa perfomance do computador. Nesse sentido, uma configuração mínima seria um processador de 800Mhz, 256mb de memória RAM e 32mb de vídeo. A placa de som fica por sua conta, mas recomendo, no mínimo, uma Soundblaster Live. As placas-mãe, atualmente, têm som onboard com desempenho semelhante ao da SB Live.
Como referência, trabalho com um Pentium4 3ghz, 1gb ram, 64mb vídeo, placa de som M-audio Delta 1010lt. O processo detalhado neste tutorial não chega a consumir 30% dos recursos desse computador.
O software e os plug-ins utilizados nesse guia encontram-se na rede, seja em versões demo/trial/share ou nas famosas (ou infames) versões ‘crackeadas’ ou pirateadas. Infelizmente, nenhum deles é freeware ou open-source.
Uma última palavra antes de começarmos. Masterize sempre tendo em vista que você deseja deixar sua faixa soando melhor e mais alto. Neste sentido, trabalhe com um volume médio na mixagem, sem atingir o nível vermelho do medidor. Costumo trabalhar com o Cubase SX em -5dbs em minhas mixagens. Lembre-se de que é muito mais fácil dar brilho e volume numa faixa mais "suave" do que corrigir distorções causadas por níveis de volume excessivos. Estes são até mesmo impossíveis de serem reparados, dependendo do "dano" feito na mixagem.
A idéia neste exemplo de masterização é relativamente simples: primeiro, uma compressão pra destacar o miolo. Depois, equalização para equilibrar e, finalmente, expansão e limitação do volume/ganho, para que o som fique alto e claro, mas não distorcido.
Vamos lá, por partes:

Primeiro: Escolha de software – Steinberg Wavelab 5

Sobre o Wavelab 5 - Leve, rápido, vários recursos, não é complicado e processa efeitos em tempo real - a grande vantagem sobre o Soundforge (até a versão 6, pelo menos). Por isso não recomendo o Soundforge, que tem mais nome do que perfomance. Eu odiava ter de dar o "preview" pra ouvir uma pequena mudança num parâmetro de algum plug-in.
Algumas pessoas masterizam no Cubase SX e têm ótimos resultados, assim como no Sonar e no Pro-Tools. Prefiro usar um software mais leve que esses sequencers gigantes, e o Wavelab se mostrou satisfatório em todos os sentidos, com velocidade e precisão nas operações.
Quando você abre uma faixa de áudio no Wavelab, ele converte temporariamente a faixa para wav 32bits float, um arquivo temporário que fica no computador apenas enquanto você trabalha. Sempre tenha em vista que o resultado final para gravação de CDs deve ser: WAV / 16 bits / 44.1 khz.

Segundo: Monitoração e Spectrum Meter

Monitoração de qualidade ajuda muito, mas não é tudo! Trabalho num monitor Samson Resolv 65a, cujo som é ótimo, mas tem uma tendência a segurar graves sobrenaturais que estouram 90% das caixas. Meus monitores também possuem uma tendência a realçar excessivamente os agudos pelos ótimos tweeters que possui. Ou seja, todos os monitores têm suas armadilhas!
Se você tem um par de monitores de som, o ideal é ouvir muita música nele. De preferência, músicas que sirvam como referência para o que você vai masterizar. É importante olhar a resposta dos monitores, através do gráfico de espectro/frequência que vem no manual ou na parte traseira do monitor. Esse gráfico mostra a resposta dos monitores em cada frequência, de acordo com a força em decibéis (db) do espectro.
Se você sabe que seu monitor dá, por exemplo, agudos surreais – como o meu caso – então pense nisso e deixe os agudos a ponto de estourar nos seus monitores, pois em outros sistemas de som, cujos tweeters não são lá tão bons (ou até mesmo ausentes!), os agudos vão soar bem. Essa regra vale para todas as frequências. Lembre-se de que a maioria dos aparelhos de som de hoje em dia responde muito bem aos médios, deixando graves e agudos sacrificados em tweeters e woofers ruins.
Outra coisa importante é monitorar com volume alto, "espancando" o som ao limite. A dica de ouvir CDs comerciais, sempre presente nos tutoriais do assunto, é válida. Mas considero válido apenas para se ter um "teto" de volume como referência, e não equalizações, timbres e etc. Afinal, estamos querendo fazer coisas novas e diferentes, certo?

O Spectrum Meter (medidores de espectro) não morde. Ele é seu amigo! Deixe um aberto e preste atenção no que ele diz sobre o som. Olhe as frequências ao longo da música, isso ajuda muito na hora de equalizar em todos os casos. Especialmente quando você não tem monitores de referência ou se seus monitores andam te enganando, como falamos no início.



Figura 1 : Ambiente de trabalho do Wavelab 5, com faixa de áudio; rack com plug-ins, master out, dithering e botão render; medidores "level meter" e "spectrum meter".

Terceiro: Os plug-ins e sua ordem de uso: por quê isso tem suas razões!

1º: Destacando o "miolo" - Voxengo Polysquasher ou AkaiQuadComp*
* Compressores simples e funcionais. O Polysquasher é um compressor de faixa com banda única. Experimente começar com treshold alto (-20 db, em média), ratio em 1:06 (para jogar o "miolo" para cima), knee em aproximadamente 22 db (mais para hard do que para soft), out em 0db.
A partir disso, mexa no knee se os picos estão muito duros e "espancando" excessivamente os acentos da sua faixa. É fácil perceber isso, pois o bumbo distorce. É hora, então, de virar o knob para o soft, pois ele vai atenuar esses picos. Uma alternativa nesse processo é o Akai QuadComp, utilizado na função Compressor (ele também tem função expander).
Nos testes, o resultado de ambos é similar, mas se você tem uma faixa muito cheia e carregada, o Akai QuadComp é uma boa solução, pois o Polysquasher não funciona muito bem nessas situações, sendo mais indicado para faixas mais limpas e definidas.
Outra vantagem do QuadComp é que ele possui 4 bandas, permitindo que você regule a compressão das freqüências de forma independente. Isso ajuda muito em faixas onde uma freqüência sobressai ou some em relação às outras.
2º: Cortando o equalizador - Elemental Audio Eqium 2ch*
* Depois da compressão, passamos para o corte de equalização, para tirar sobras indesejadas e realçar o que ainda não está soando bem. Este equalizador é simplesmente maravilhoso, nunca vi nada tão preciso e com tanta flexibilidade. Ele funciona por 'camadas', que você modifica à medida em que a curva de equalização é montada.
Essas camadas são os tipos de curva: shelf, low/high/band pass, parametric, notch e harmonics. Veja na figura abaixo a precisão desse plug-in:




Figura 2 – Equalizador Elemental Audio Eqium
3º: Subindo o volume - Waves L3 Ultra-Maximizer / Multi-Maximizer*
*Aqui começamos no preset "High-res cd master 16bit". Se você usou faixas em 24 bits, o plugin conta com dither para conversão, caso você não use o dithering Wavelab. Se não o fez ainda, faça isso agora, pois como já foi dito, CDs são gravados com qualidade WAV 16bit / 44.1 khz. Não vale a pena aprofundar neste assunto, mas apenas para constar uma definição ultra-resumida: O dithering é um modo de otimizar a qualidade das mudanças de uma taxa de bits para outra.
Comece com treshold em cerca de -5 db, out ceiling em -0.2 db e ajuste esses níveis ao máximo de volume possível, sem distorção das freqüências. No caso da versão "Multi" do plug-in, é possível um ajuste de ganho das bandas da freqüência pelo equalizador gráfico, o que é um belo recurso. Como já tinha "picotado" as freqüências no Eqium, usei a versão "Ultra", de banda única, para esses casos onde você não precise ajustar os ganhos de bandas separadas.
Em ambos os plug-ins, há uma função chamada "profile" que é bem interessante. São presets que definem o perfil do sinal processado que sairá do plug-in. Teste os presets:
  • Cosy and warm (dá um ganho bem equilibrado em todas as freqüências)
  • Wide Band ARC (bom para destacar agudos sumidos e para faixas com o centro da imagem sobrecarregado)
  • Loud and proud (acompanha o preset "High-res cd master 16bit", sobe o nível geral do som e destaca médios e graves).
4o: Clips e Limitadores - Steinberg Peak Máster *
* Esse plug-in acompanha o Wavelab. Pode usar o padrão default do plug-in, tudo em 0db e estamos todos felizes, sem "clips" (distorções). Claro que é importante dizer: se você exagerou e o som está distorcido, o Peak Master engana apenas a luz vermelha do clipping, mas não seus ouvidos. Este plug-in é bom para pequenos clips, apenas como um "segurança" na saída.
Sempre se preocupe com os "clips", as luzinhas vermelhas acendendo acima dos faders do master out. O Wavelab também possui medidores apropriados para isso, como o Level Meter, que aparece na figura 1.
Plug-ins e processadores de efeito podem enganar o clip. Você pode estar ouvindo uma bagunça super-comprimida, maximizada e distorcida, com seu peak limiter de luz apagada, indicando som aparentemente sem distorção a 0db. A dica é ver se o som está distorcido no out de cada plug-in e abaixar o volume de cada um ou de um deles para tirar o clip.

Quarto - Finalizando

Agora é a hora de dar os toques finais na produção. Primeiro, "renderize" a faixa: Botão "Render", abaixo do rack de plug-ins. Os plug-ins vão automaticamente entrar em bypass (desligados) após a renderização, para você ouvir o resultado. Agora, veja o rms power do som. O rms é a potência real do som, medida em decibéis. No wavelab você faz isso selecionando a faixa e clicando "Y". Aparecerá um menu onde você mede os picos (peaks) da onda e sua potência real em rms (loudness), como na fig. 3.
Quanto mais próximo de 0db sua faixa estiver, melhor. Isso serve tanto para os picos quanto para a potência real. Não dá para mudar muito a potência real da música por simples ajuste de ganho ou volume. Estes são apenas para pequenos ajustes, como dar aqueles 0,350db que faltaram para os picos ficarem em 0db.
Se você não conseguiu valores satisfatórios, mas está contente com a sonoridade, aplique novamente o combo Waves L3 + Peak Master, com um ajuste mais suave do L3. Vá pela configuração padrão (default) dele, escolha um profile e abaixe o treshold até que você consiga potência sem distorções no som. Isso resolve consideravelmente o problema de "volume".



Figura 3: Menu de análise global (Global Analysis)
Uma dica é fazer essa análise com faixas de sonoridade similar à que você está trabalhando e ver os níveis que ela possui, para você ter uma base de comparação. Masterizando minha última faixa consegui picos de -0.01, rms máximo de -3,52 e média (average) de -6,82.
Um ótimo nível para homestudio baseado em plug-ins virtuais apenas. Faço música eletrônica (trance), então comparei com vários artistas consagrados do meu estilo e as faixas tinham valores semelhantes. Agora é só testar em quantos sistemas de som você conseguir, comparar o que cada um apresenta e equilibrar sua masterização para que soe no mínimo razoável em todos os aparelhos (e ouvidos), mas lembre-se: nem Jesus agradou a todos, então veja a "média" das audições e opiniões e decida o que acha melhor para sua música.
Eis a palavra-chave em masterização: comparação. Faça várias masters, compare uma com a outra, compare com faixas de outros artistas no seu estilo. É sempre bom ter pontos de comparação! Nesse sentido, os plug-ins aqui usados são apenas referências comparativas: há vários plug-ins excelentes por aí! Teste outros e veja com qual set-up você se sai melhor.
Procure ler os manuais dos plug-ins ou se informar sobre cada um dos processos, como compressão, equalização, etc. Experimentar é fundamental, mas estudar também é decisivo na hora tirar uma boa sonoridade: o estudo fornece métodos para caminhar, mas a experimentação é o próprio percurso!
Até a próxima,
Diogo Corgosinho Borges*
*Compositor, técnico de som autodidata e estudante de História da Puc-MG.
Contatos para trabalhos de mixagem, masterização e aulas sobre áudio digital
anticodes@gmail.com

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